sexta-feira, 28 de março de 2008

Amor maior que o mundo...

"Era uma vez uma menina que amava demais. Amava tanto, mas tanto, que o amor nem cabia dentro dela. Saía pelos olhos, brilhando, pela boca, cantando, pelas pernas, tremendo, pelas mãos, suando.(Só pelo umbigo é que não saía: o nó ali é tão bem dado que nunca houve um só que tenha soltado).A menina sabia que o único jeito de resolver a questão era dando o amor ao menino que amava.

Mas como saber o que ele achava dela? Na classe, tinha mais 15 meninas. Na escola, 300. No mundo, vai saber, umas 2 bilhões? Como é que ia acontecer de o menino se apaixonar justo por ela, que tinha se apaixonado por ele?

A menina tentou trancar o amor numa mala, mas não tinha como: nem sentando em cima o zíper fechava. Resolveu então congelar, mas era tão quente o amor, que fundiu o freezer, queimou a tomada, derrubou a energia do prédio, do quarteirão e logo a menina saiu andando pela cidade escura - só ela brilhando nas ruas, deixando pegadas de Star Fix por onde pisava.

O que é que eu faço? - perguntou ao prefeito, à amiga, ao doutor e a um pessoalzinho que passava a vida sentado em frente ao posto de gasolina. Fala pra ele! - diziam todos, sem pensar duas vezes, mas ela não tinha coragem.E se ele não a amasse?E se não aceitasse todo o amor que ela tinha pra dar? Ela ia murchar que nem uva passa, explodir como bexiga e chorar até 31 de dezembro de 2978.

Tomou então a decisão: iria atirar seu amor ao mar. Um polvo que se agarrasse a ele - se tem 8 braços para os abraços, por que não 4 corações para as suas paixões? Ela é que não dava conta, era só uma menina, com apenas duas mãos e o maior sentimento do mundo.Foi até a beira da praia e, sem pensar duas vezes, jogou. O que a menina não sabia era que seu amor era maior que o mar. E o amor da menina fez o oceano evaporar.

Ela chorou, chorou e chorou pela morte do mar e do seu grande amor.Até que sentiu uma gota na ponta do nariz. Depois outra, na orelha e mais outra, no dedão do pé. Era o mar, misturado ao amor da menina, que chovia do Saara a Belém, de Meca a Jerusalém.

Choveu tanto que acabou molhando o menino que a menina tanto amava. E assim que a água tocou sua língua, ele saiu correndo para a praia, pois já fazia meses que sentia o mesmo gosto, o gosto de um amor tão grande, mas tão grande, que já nem cabia dentro dele."


texto por Antônio Prata (adaptado)

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